É bem claro que o filme possui uma relação com a evolução da consciência (não necessariamente a consciência humana — o "starchild" e a inteligência artificial, HAL 9000, também fazem parte deste tema, juntamente com os personagens humanos). Esse tema é claro a partir da abertura do filme, onde somos apresentados a um pedaço da música "Also sprach Zarathustra" (Assim falou Zaratustra), nomeada em referência ao tratado filosófico de Nietzsche. Não vou entrar na escrita de Nietzsche, mas a ideia da evolução (a metamorfose de mensch para ubermensch) faz parte do Eterno Retorno. Essa ideia é fundamental para o filme — observe o primata lançando um osso no ar, que é então paralelo com a maior conquista tecnológica do homem: o navio espacial. Embora isso envolva o tema da tecnologia-evolução, também ilustra como a evolução é uma constante, mesmo que as formas assumidas por ela sejam muito diferentes — o Eterno Retorno.

Outra instância parecida se encontra no final, onde Dave se torna o que é referenciado, fora do filme, como "starchild" (não David Bowie, @Feitan — mas um embrião gigante do espaço). O fato de que o próximo grande salto na evolução do homem se materialize como um filho "não nascido", mostra que este não é, de modo algum, o último passo. Tudo continua fazendo parte do Eterno Retorno.

Então nós temos uns dos 20 minutos finais mais confusos do cinema: depois de encontrar a estrutura monolítica (a mesma estrutura encontrada pelos primatas), Dave transcende o espaço-tempo. O protagonista entra em um mundo repleto de referências à arquitetura grega (talvez uma referência à filosofia grega?), juntamente com arte barroca e artefatos de outros períodos do tempo — incluindo o futuro. Se você não viu o filme, posso lhe assegurar que é ainda mais surreal do que o que eu descrevo aqui.

No lugar em questão, o tempo não parece existir. Isso é demonstrado pela forma como Dave se comporta ao enxergar diferentes versões de si mesmo. Assim como na teoria das formas (de Platão), esse reino é perfeito e eterno. Eu acho que é bem apropriado que, quando Dave quebra um copo (corrompendo a perfeição), ele aparece em sua cama: olhando para o monólito — pronto para ser expurgado do reino. Assim como no caso dos primatas no início do filme, essa experiência é o que impulsiona o próximo passo na evolução da consciência de Dave.

E é aqui que chegamos na Alegoria da Caverna. É incontestável que o que nós experimentamos, dia a dia, faz parte do mundo das sombras. O exterior da caverna é o mundo das formas — a visão perfeita. Eu argumento que este filme retrata o monólito como uma espécie de portal para o exterior da caverna. Ainda assim, eu acho que Platão argumentaria que, através da filosofia, é possível deixar a caverna — talvez o monólito represente a filosofia ou talvez até uma inspiração divina — eu não sei — e, como diria Clarice Lispector, isto ultrapassa qualquer coisa (além disso, se eu soubesse, eu provavelmente seria um starchild agora... E não estaria digitando em um fórum de anime).

Para finalizar, o reino das formas perfeitas é a constante de nossa evolução — o nosso Eterno Retorno.