A filosofia de John Kramer, a meu ver, passa por três condições:
Uma delas é a importância do perdão. Você tem que perdoar os outros, e você tem que perdoar a si mesmo;
A segunda é a importância do sofrimento. Ninguém passa pela vida sem encarar momentos de sofrência;
A terceira importância é a de ter suas prioridades em linha reta: seja você mesmo e proteja o que é importante.
Note que todos esses princípios são bastante semelhantes aos defendidos por muitas tradições religiosas. Poderia ser melhor dizer que a religião de SAW não é um "novo" caminho, mas, sim, um lembrete da finalidade da alegria e da vida significativa escrita em execuções oxidadas e sangrentas.
Então, o código do John Kramer fica muito interessante quando a Amanda Young entra em cena. SPOILER ALERT:
Amanda foi uma das primeiras pessoas a superar as estratagemas e sobreviver a um dos jogos do psicopata. Ela estava traumatizada, mas, em vez de ajudar a polícia a localizar seu captor, ela disse a eles — "Ele me ajudou."
Pense: ele realmente ajudou ela? Vivemos em um mundo onde as pessoas que estão no topo reprimem as que estão abaixo. Nós vivemos em uma selva, um território onde é dente por dente, dignidade, direitos, empregos, respeito, recursos limitados — e qualquer pessoa racional que foi sequestrada e torturada, naturalmente, desejaria a prisão de seu algoz.
É exatamente por isso que as forças policiais tiveram tantos problemas para deter John Kramer e seus vários discípulos: eles não podiam sair de seu paradigma e entender a nova maneira de pensar iniciada pelo antagonista. Eles eram semelhantes aos romanos lidando com Cristo, como quando Pôncio Pilatos disse: "O que é a verdade?" (— com a implicação de que não há uma verdade absoluta, apenas leis terrenas) e depois lavou as mãos de todo o caso. Amanda Young era uma viciada em heroína que tinha que fazer muita sujeira repreensível para alimentar seu hábito; é um fato que a terrível provação que ela suportou despertou-a até o fato de que ela encontrou-se vivendo uma vida horrível (— ou "ignorando o dom da vida", como John Kramer costumava dizer), chafurdando em desespero, culpando os outros, culpando a si mesma, culpando qualquer coisa — em vez de apenas tentar superar e viver a sua vida. O mundo moderno nunca deu a Amanda as ferramentas para viver nada além de uma vida sem sentido de sofrimento sem fim, e a polícia e suas leis certamente não iriam adicionar propósito à sua vida; só John Kramer poderia oferecer uma maneira significa de viver — uma vida com um propósito.
Não há como justificar as coisas que as pessoas foram forçadas a fazer. As armadilhas eram sempre muito elaboradas e maliciosas para serem vistas como formas de ajudar as pessoas, na verdade, muitas vezes, colocavam as pessoas em uma batalha de sobrevivência onde somente uma sairia viva — boa parte delas não tinham esperança de sobrevivência, e os motivos eram triviais per se.
É algo para se refletir. o/